Rei Ungido
- THE LAMPSTANDS
- 14 de abr.
- 6 min de leitura

Em um momento silencioso e perfumado que ecoou ao longo da história, uma mulher chamada Maria fez algo surpreendente—tão surpreendente que até mesmo os seguidores mais próximos de Jesus ficaram escandalizados.
Isso aconteceu em Betânia, uma pequena aldeia nos arredores de Jerusalém, seis dias antes da Páscoa, durante um jantar em honra a Jesus. Estavam reunidos na casa de Simão, o leproso, um homem que Jesus provavelmente havia curado. Enquanto a refeição se desenrolava, Maria—irmã de Marta e Lázaro—entrou no cômodo com um pequeno frasco de alabastro nas mãos.
Dentro havia nardo puro, um óleo aromático importado que valia o salário de um ano inteiro. Sem hesitar, ela quebrou o frasco e derramou cada gota—não apenas sobre os pés de Jesus, como muitos lembram, mas também sobre a Sua cabeça (Marcos 14:3, João 12:3). O aroma teria preenchido toda a casa, denso e sagrado, impregnando Sua pele por dias. Mas aquilo era mais do que um gesto de afeto ou hospitalidade. Era uma unção—e uma preparação para o sepultamento.
“Ela fez uma coisa bela para mim… Ao derramar este perfume sobre o meu corpo, ela o fez para me preparar para o sepultamento.”
— Mateus 26:10,12
Maria viu algo que mais ninguém viu. Ela entendeu algo sobre Jesus que nem mesmo os Seus discípulos conseguiam compreender: Ele veio para morrer. Maria não estava esperando por um rei guerreiro—ela estava adorando o Crucificado.
Sua unção não foi apenas um gesto generoso—foi profético. Foi sua forma de dizer: "Eu te vejo. Eu sei o que está por vir. E te entrego tudo o que tenho." Ela derramou seu tesouro, sua dignidade, sua segurança—e não reteve nada.
Mas nem todos enxergaram dessa forma. Os discípulos ficaram indignados. Judas, em particular, protestou: "Por que esse desperdício?" Eles chamaram o ato de excessivo, impraticável. Jesus chamou de belo.
E, naquele momento, vemos um padrão: Maria, como tantos antes e depois dela, entendeu Jesus de uma forma que ofendia os outros. Ela o honrou de um jeito que deixava os “justos” desconfortáveis. Ela foi, de muitas maneiras, escandalizada pela graça—mas não para rejeitá-lo. Para adorá-lo.
O Escândalo Continua
Essa mesma tensão—entre expectativa e realidade, entre honra e ofensa—aparece em outra cena que revela o quanto Jesus desconcertava as pessoas.
Em Mateus 11, encontramos um momento surpreendente de dúvida. João Batista, o profeta ousado que preparou o caminho para o Messias, envia uma mensagem da prisão: "És tu aquele que haveria de vir ou devemos esperar outro?" Até mesmo João está questionando Jesus.
Jesus responde:"Bem-aventurado aquele que não se escandaliza por minha causa."
A palavra grega usada aqui é skandalizo—ser escandalizado, ser levado à rejeição por indignação. E João, justamente ele, começava a se sentir escandalizado por Jesus.
Mas por quê? Porque Jesus não estava fazendo o que muitos esperavam que o Messias fizesse. Ele não estava derrubando governos. Não estava fazendo chover fogo do céu. Em vez disso, Ele curava os doentes, pregava aos pobres e se relacionava com os marginalizados. E Jesus sabia que isso ofendia as pessoas—não só naquela época, mas ainda hoje. Ele sabia que pessoas em Nova York, Londres ou qualquer grande cidade moderna, assim como na antiga Judeia, teriam dificuldade com um Messias assim—um que não veio para resolver disputas políticas, mas para resgatar almas da separação eterna.
Jesus então descreve quem realmente o recebe: não os poderosos, não os respeitáveis, mas os pobres, os determinados e os menores. Vamos explorar o que isso significa.
Por que os Pobres Reconhecem as Boas Novas
Jesus disse aos discípulos de João: “Voltem e anunciem a João o que vocês estão ouvindo e vendo... aos pobres está sendo pregada a boa nova.”
O termo evangelho significa “boas novas”, mas não se referia a qualquer notícia—era uma mensagem transformadora, uma proclamação de impacto mundial. No mundo romano, essa palavra era usada para anunciar a coroação de um novo imperador ou a vitória de um grande exército.
Jesus usou esse termo de forma intencional. O cristianismo não é um bom conselho—é uma boa notícia. Não é uma filosofia, nem um conjunto de ensinamentos morais. É a proclamação de que algo aconteceu: Deus entrou na história, se fez humano, morreu e ressuscitou.
Mas por que os pobres recebem essa notícia com mais facilidade do que os ricos ou poderosos? Porque os pobres entendem o que é depender. Eles sabem que a vida não é justa. Sabem que não estão no controle. Vivem com uma consciência constante de que a graça é o único caminho. Por isso, quando ouvem que a salvação é um dom, e não uma recompensa, eles se alegram.
Em contraste, muitos de nós—especialmente em círculos privilegiados e instruídos—ficamos ofendidos. Queremos um Salvador que confirme nossos valores, que aplauda nossos esforços. Reduzimos Jesus a um mestre sábio ou guia moral. Dizemos: “Não precisamos de doutrina—só de amor, paz e justiça.”
Mas o que realmente queremos dizer é: “Não precisamos de um Salvador. Só queremos um pouco de inspiração.”
Jesus diz: não. Você precisa de um evangelho—não de um seminário de autoajuda.
E os pobres já sabem disso.
A Urgência do Reino
No versículo 12, Jesus diz algo misterioso: “Desde os dias de João Batista até agora, o Reino dos céus é tomado à força, e os que usam de força se apoderam dele.”
Essa frase tem intrigado tradutores por séculos. Algumas versões dizem que o Reino sofre violência. Outras, que ele avança com força. De qualquer forma, Jesus está dizendo que entrar no Reino exige mais do que passividade. Exige urgência. Determinação. Até mesmo abalo.
Você não “adiciona” Jesus à sua vida como se fosse um novo aplicativo. Ele transforma tudo. Se Ele é quem diz ser—o Senhor da história, Aquele diante de quem até as estrelas são como fiapos—então Sua entrada em nossa vida é como um terremoto. Tudo muda: suas prioridades, seus valores, sua identidade.
Seguir Jesus significa rendição. Significa permitir que Ele destrua e reconstrua.
Essa é a “violência” da graça. O evangelho não pede que você se limpe primeiro—ele pede que você morra para si mesmo e seja feito novo.
E aqui está a boa notícia: Jesus já suportou a verdadeira violência por nós. Na cruz, Ele carregou o julgamento que nós merecíamos. Ele sofreu o maior dos abalos, para que a nossa transformação pudesse ser a violência da vida—não da morte.
Os Menores São Exaltados
Então Jesus faz outra declaração surpreendente: “Entre os nascidos de mulher, não surgiu ninguém maior do que João Batista; mas aquele que é o menor no Reino dos céus é maior do que ele.”
Como isso é possível? A grandeza no Reino de Deus não se baseia em status, força ou conquistas espirituais. Ela se baseia na graça. Os menores—os que sabem que são fracos, necessitados e pecadores—são os que verdadeiramente compreendem o evangelho.
Jesus cita Isaías 35, que profetiza que, quando Deus vier, “os olhos dos cegos serão abertos… os coxos saltarão… os mudos cantarão de alegria.” Mas Isaías também disse que isso viria com vingança e retribuição. Então João pergunta: Onde está o julgamento? Onde está o fogo?
A resposta de Jesus é profunda: Ele veio—mas caiu sobre mim.
Se Deus tivesse vindo em julgamento, todos nós teríamos sido condenados. Ninguém poderia permanecer de pé. Mas, em vez disso, Jesus tomou o julgamento sobre Si, para que pudéssemos receber a bênção. Ele recebeu a ira e nos deu paz. Ele usou a coroa de espinhos para que pudéssemos usar a coroa da vida.
Esse é o escândalo da graça: que o pecador mais fraco, vestido na justiça de Cristo, é mais belo aos olhos de Deus do que o santo mais forte confiando em si mesmo. Que o Reino não é herdado pelos merecedores, mas pelos dispostos. Que os primeiros se tornam os últimos—e os últimos, são exaltados.
Um Presente Escandaloso
Maria não se escandalizou. Ela foi indigna em sua devoção, ousada em sua adoração e profética em seu amor. Enquanto outros discutiam, ela agia. Enquanto outros hesitavam, ela derramava tudo—cada gota.
E ao fazer isso, ela ungiu Jesus não apenas como um Rei—mas como o Rei Ungido que morreria pelo mundo.
Nós nos escandalizamos com o verdadeiro Jesus? Queremos um Messias que confirme nossas crenças, ou um que transforme nossas vidas? Queremos um evangelho—ou apenas uma religião? Queremos graça—ou controle?
Jesus diz que os pobres entendem, os determinados se apegam, e os menores são exaltados. O evangelho não é sobre ser bom—é sobre ser salvo. Não é sobre conquistar—é sobre receber. É o presente escandaloso da graça. E é oferecido livremente.