Tomé, o incrédulo
- THE LAMPSTANDS
- 19 de abr.
- 5 min de leitura

Tomé é um dos discípulos mais conhecidos de Jesus — não necessariamente por suas realizações, mas por causa de um apelido que ficou: Tomé, o incrédulo. No entanto, quando olhamos mais de perto a história de Tomé, encontramos um homem marcado não apenas pela dúvida, mas por uma profunda devoção e uma fé corajosa. Tomé é mencionado principalmente no Evangelho de João, onde vemos um retrato complexo de alguém que lutou com o medo e a incerteza, mas que permaneceu profundamente comprometido com Jesus.
A Coragem de um Pessimista (João 11)
Em João 11, Jesus decide voltar à Judeia após saber que Seu amigo Lázaro havia morrido. Os discípulos hesitam — eles sabem que Jesus está caminhando em direção ao perigo. Da última vez que Ele esteve lá, os líderes religiosos tentaram apedrejá-lo. Para eles, isso parecia uma missão suicida.
Mas Tomé se manifesta no versículo 16: "Vamos também nós, para morrermos com Ele."
É fácil perceber pessimismo nas palavras de Tomé — e talvez com razão. Ele acreditava que o pior aconteceria. Pensava que Jesus morreria em Betânia e que segui-lo significaria a morte deles também. Mas aqui está a parte poderosa: mesmo com medo, Tomé seguiu. Ele não deixou a ansiedade impedir sua obediência. Ele não precisava de otimismo para permanecer leal.
Tomé preferia morrer com Jesus do que viver sem Ele. Não via vida alguma fora de Cristo — e mesmo acreditando no pior, permaneceu fiel. Esse tipo de fé, nascida do pessimismo mas expressa com coragem, é rara e profundamente admirável. Suas palavras podem soar sombrias, mas revelaram um homem que considerava morrer com Jesus melhor do que viver sem Ele.
Um Coração Que Desejava Permanecer Perto (João 14)
Em outro momento, em João 14, Jesus diz aos discípulos que está indo preparar um lugar para eles. Ele os tranquiliza, dizendo que "vocês conhecem o caminho para onde vou". Mas Tomé, honesto e prático, responde no versículo 5: "Senhor, não sabemos para onde vais. Como então podemos saber o caminho?"
Mais uma vez, vemos a personalidade de Tomé — ele quer entender. Tomé era claramente um homem pragmático, que avaliava os riscos e seguia passos cuidadosos. Mas também era alguém cujo amor por Jesus transbordava. Ele não queria se separar Dele. Sua pergunta não nasce do ceticismo, mas do anseio. De certa forma, o que ele está dizendo é: Diga-nos como te encontrar, Jesus, porque não queremos te perder.
A Famosa Dúvida (João 20)
Agora chegamos à famosa dúvida que acabou dando a Tomé seu apelido. Jesus havia sido crucificado e sepultado. Três dias depois, Ele ressuscitou e apareceu aos outros discípulos — mas Tomé não estava lá. Quando eles disseram: "Vimos o Senhor", Tomé respondeu no versículo 25:
"Se eu não vir nas Suas mãos o sinal dos cravos, e ali não puser o meu dedo, e não puser a minha mão no Seu lado, de modo nenhum acreditarei."
E então surge outra pergunta: Onde estava Tomé? A Escritura não diz. Mas é bem possível, dado seu profundo amor pelo Mestre, que ele estivesse sofrendo sozinho. Talvez estivesse com o coração tão partido que não conseguia estar com os outros. Talvez o seu maior medo — de que Jesus realmente tivesse partido — o tivesse dominado. E então, ao voltar e ouvir que os outros tinham visto Jesus? Isso pode ter tornado a dor ainda maior. Ele não apenas sentia falta de Jesus. Agora, também sentia falta de ter visto o Jesus ressuscitado com os próprios olhos.
E assim, ele faz uma declaração ousada: a menos que possa tocar fisicamente nas feridas, ele não acreditaria. É fácil chamar isso de dúvida, mas na verdade, isso se parece mais com luto e saudade. Tomé não estava rejeitando Jesus; ele estava desesperado por Ele. Seu coração estava despedaçado. Ele sentia falta de seu amado Mestre.
Jesus Nos Encontra na Dúvida
Oito dias depois, Jesus aparece novamente. Desta vez, Tomé está presente. E Jesus não o repreende de forma alguma. Ele diz: “Ponha o seu dedo aqui e veja as Minhas mãos. Estenda a mão e coloque-a no Meu lado. Não seja incrédulo, mas creia.” (João 20:27)
É claro que Jesus sabia exatamente o que Tomé havia dito. Mas Ele o encontrou exatamente onde ele estava. Deu-lhe o que havia pedido. Sem condenação — apenas compaixão. E Tomé responde com uma declaração ousada e sincera:
“Senhor meu e Deus meu!”
Sua dúvida foi engolida pela adoração. Sua incerteza se dissolveu em convicção. Aquele que questionou se tornou aquele que confessou. E então Jesus diz: “Você creu porque Me viu? Bem-aventurados os que não viram e creram.”
E essa se tornou a bênção prometida a nós: aqueles que, ao contrário de Tomé e dos outros discípulos, precisam andar por fé e não por vista — aqueles que percebem a glória de Deus e confiam em Sua presença mesmo sem prova tangível.
Uma Fé Que Se Fortaleceu
As dúvidas de Tomé não o desqualificaram. Na verdade, tornaram-se o solo onde uma fé mais profunda foi plantada. A história nos conta que Tomé levou o evangelho até a Índia. Ele se tornou uma das testemunhas mais ousadas da ressurreição. E, eventualmente, deu sua vida pelo evangelho — foi martirizado ao ser atravessado por uma lança. O homem que duvidou da ferida no lado de Jesus, causada por uma lança, um dia morreria por uma lança também.
A história de Tomé nos lembra que a dúvida pode coexistir com a devoção. Que a honestidade não afasta Jesus; ela O atrai. Que o Salvador nos encontra, não com vergonha, mas com paz. Ele entende nossas perguntas. Ele nos convida para mais perto.
Ter dúvidas não é um problema. Todos nós passamos por isso em algum momento. Mas é importante lembrar que não devemos permanecer nelas por muito tempo. Não devemos nos acomodar na dúvida. Em vez disso, que a dúvida se torne um ponto de partida para uma busca mais profunda: vamos pesquisar mais, aprender mais, ler as Escrituras e orar mais. Essas práticas não são apenas disciplinas espirituais; são construtores de fé. Elas fortalecem nossa crença e nos aproximam do coração de Deus.
O Convite
E quanto a você? Quais dúvidas você está carregando? Talvez você já tenha perguntado: Onde estava Deus quando eu mais precisei? Por que Ele permitiu que aquilo acontecesse? Será que Ele realmente se importa? Será que Ele é real?
Se esse é o seu caso, saiba que você não está sozinho. Você não está condenado. E, assim como Tomé, sua dúvida pode te levar a um encontro mais profundo. Jesus é a resposta para as suas dúvidas. Ele te encontra em portas trancadas e em tempos de desespero. E diz com ternura: “Veja Minhas mãos. Veja Meu lado. Creia.”
Fé não é a ausência de perguntas. É a presença de Jesus no meio delas. Então hoje, traga a Ele sua incerteza. Traga suas perguntas. E deixe que sua dúvida, como a de Tomé, se torne a porta de entrada para a adoração: “Senhor meu e Deus meu!”.